Para conter a evasão de médicos do SUS, o governo federal tomou como medida tornar obrigatório o período de trabalho de dois anos de trabalho na rede, antes de receber o diploma e o registro profissional.
Recebida com muitas ressalvas pelos médicos como forma de desestimular os alunos, que ganharam mais dois anos num processo já longo de estudos. A regra só começou a valer com estudantes que iniciaram seus estudos em 2015, ou seja, a primeira turma só começará em 2021. O foco do governo é suprir as necessidades de médicos na saúde pública básica. Mas será que trabalhar no SUS é algo tão ruim?
A saúde pública brasileira é muito mais funcional que a americana (que não é totalmente gratuita), mas em grande déficit quando comparada a política europeia. Quando alguém ouve SUS, já imagina hospitais lotados, fila longa de espera e muito estresse, tanto para o paciente quanto para quem trabalha.
Mas a verdade é que o SUS é referência de saúde na América Latina e um projeto ousado e democrático. A diferença crucial entre o SUS e o bem sucedido sistema de saúde do Canadá, por exemplo, é financeiro. Falta recursos para agilizar o atendimento, melhorar a infraestrutura dos hospitais e postos de saúde, contratar nossos profissionais e melhorar suas remunerações, já seria uma grande evolução para atendimentos rápidos e precisos, para uma população mais saudável.
O SUS não exige carência, pagamentos adicionais, não nega procedimentos de alta complexidade e não tem auditoria médica. O paciente se cadastra e segue com seu tratamento de acordo com a necessidade. Inclusive para tratamentos como AIDS e câncer, totalmente gratuitos e com alguns dos melhores especialistas do país.
Para um médico iniciante que se assusta com as mazelas do sistema e também com a remuneração baixa, há alguns fatores muito interessantes que podem estimula-lo para trabalhar no SUS.
Muitos jovens médicos iniciam suas carreiras no SUS, como trampolim para montarem seus próprios consultórios médicos. Aproveitam a experiência adquirida, que não é pouca, de trabalhar com várias pessoas diferentes e uma gama de doenças, que embora a maior parte seja comum, há sempre situações práticas que o formando só tinha visto em aulas.
A pressão e o volume de atendimentos são incomparáveis a qualquer consultório. E isso é bom já que oferece agilidade em resolver questões difíceis e que precisam de solução imediata.
Além disso, há tratamentos que só o SUS é capaz de oferecer com qualidade e medicamentos adequados e gratuitos. A AIDS, a esclerose múltipla e hepatite C fazem parte dessa relação, onde ele é referência máxima no país. Esses tratamentos estão atualizados com o que há de mais moderno no mundo, recebendo medicamentos recém-lançados quase que imediatamente. O tratamento é caro para o governo, mas sem custo para o paciente. A vantagem para o médico é poder acompanhar todo o desenvolvimento das doenças e os efeitos dos medicamentos, através de seus pacientes, além das pesquisas mais atualizadas sobre o assunto.
Setores como a oncologia, que estão perdendo a liderança para a rede particular, por uma defasagem no que há de mais atual em medicamentos e pesquisas, ainda assim possuem os melhores médicos. Trabalhar com um ex-professor, por exemplo, é levar a aula para a prática e ter acesso a informações que um consultório particular não seria capaz de oferecer.
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