De acordo com dados do censo demográfico médico da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), 75% da população brasileira depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para assistência médica, enquanto a minoria restante da população (25%) possui algum tipo de assistência médica privada (seguro ou plano de saúde).
O levantamento da FMUSP – apoiado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e o Conselho Federal de Medicina (FCM) – mostrou ainda que apenas 30% dos médicos trabalham no setor público, atendendo em hospitais e unidades de atenção primária à saúde. Enquanto que a atenção secundária (serviços médicos especializados) é escassa entre estes profissionais. Pouco mais de 4% dos médicos que atendem pelo SUS trabalha em unidades especializadas de saúde.
Um estudo realizado em 2011 em atendimento a uma portaria do Ministério da Saúde (GM/MS nº 1.377/11) relacionou 20 especialidades médicas prioritárias e quatro áreas de atuação, tendo como critério a escassez destes especialistas no SUS:
• Especialidades médicas: Anestesiologia, Cancerologia, Cancerologia Cirúrgica, Clínica e Pediátrica, Cirurgia Geral e Médica, Geriatria, Ginecologia e Obstetrícia, Medicina de Família e Comunidade, Intensiva e Preventiva e Social; Neurocirurgia; Neurologia; Ortopedia; Patologia; Pediatria; Psiquiatria; Radioterapia e Traumatologia.
• Áreas de atuação: Cirurgia do Trauma; Medicina de Urgência; Neonatologia e Psiquiatria da Infância e da Adolescência.
A maioria dos especialistas está concentrada no setor privado das regiões mais ricas do país
A grande maioria (cerca de 70%) dos médicos em atividade está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. Estas mesmas regiões são responsáveis por 71,8% de todos os médicos especialistas no país. Deste montante, 52,43% estão apenas no estado de São Paulo. Um percentual que representa um número de especialistas superior à soma de todos os médicos especialistas de todas as outras regiões do país
Além disto, a grande maioria destes profissionais atua no setor privado, gerando uma carência destes especialistas nas unidades de atendimento do SUS. Foi o que comprovou um estudo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mostrando a grande dificuldade do setor público de saúde na ampliação dos atendimentos médicos especializados aos usuários do SUS.
Um número reduzido de especialidades médicas concentra a maioria dos profissionais
O cenário de desigualdade verificado com a escassez de especialistas em atuação no SUS parece mais preocupante quando se considera que apenas seis das 53 especialidades médicas reconhecidas pelo CFM concentra cerca de metade dos médicos especialistas. Anestesiologistas, Cardiologistas, Cirurgiões gerais, Clínicos gerais, Ginecologistas e Obstetras e Pediatras representam 49% dos profissionais especializados.
A motivação do médico no momento de escolha de sua especialidade tem muitas variáveis e a gestão de políticas públicas do SUS tem buscado mecanismos para modificar esta realidade há tempos. No momento, o cenário ainda é de deficiência entre as especialidades consideradas estratégicas para o SUS como as voltadas para a atenção ao idoso e à saúde mental.
Referência:
Scheffer, M. et al, Demografia Médica no Brasil 2015. Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da USP. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Conselho Federal de Medicina. São Paulo: 2015, 284 p.
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